folha de londrina
22/10/2015
Memória ameaçada
Demolido há quatro anos, Hotel Rolândia deve ter reconstrução concluída até o final do primeiro semestre de 2016
Lembrança mais fidedigna da primeira hospedagem construída em Rolândia é um quadro em uma das salas do Hotel Pinheiro
De acordo com a administração municipal, 63% da obra de reconstrução foram concluídos
"A hospedagem era muito usada por pessoas que vinham de fora para comprar terras em Rolândia", comenta Pedro Bernardy, coordenador do Centro de Intercâmbio Cultural Brasil-Alemanha
"A madeira que era do hotel está no tempo, em lugar aberto, com chuva, pode estragar. Deu pena ver o hotel ser desmanchado", comenta a artesã Érica Schroeder
Rolândia – Na Avenida Presidente Getúlio Vargas, no coração de Rolândia (Região Metropolitana de Londrina), a lembrança mais fidedigna do Hotel Rolândia, a primeira hospedagem construída no município, é um quadro em uma das salas do Hotel Pinheiro. No lugar onde havia uma janela que permitia ver a antiga construção de peroba rosa, uma fotografia de 1935 foi pendurada na parede. Hoje, se a janela ainda estivesse ali, a vista daria para um edifício em construção. O famoso Hotel Rolândia, por sua vez, se tornou centro de um imbróglio que coloca em risco um dos maiores símbolos do patrimônio histórico da cidade, uma vez que a reconstrução do imóvel segue a passos lentos. Apesar de a demolição ter ocorrido em março de 2011, a última intervenção, que foi a licitação para compra de telhas, foi há três meses.
Segundo dados da Secretaria Municipal de Cultura, o hotel teve até o momento somente 63% da obra concluída num terreno da prefeitura na mesma avenida onde foi fundado, a 300 metros do ponto original. Depois de pronto, o espaço deve se tornar um museu. A comunidade, ao testemunhar a demora das intervenções, receia que o empreendimento perca as características originais. "A madeira que era do hotel está no tempo, em lugar aberto, com chuva, pode estragar. Deu pena ver o hotel ser desmanchado", comenta a artesã Érica Schroeder, de 65 anos.
A criação da hospedaria data de junho de 1934, mesmo período da fundação de Rolândia. Era a única habitação de madeira da cidade, já que as demais eram ranchos feitos de palmito. O hotel foi construído pelo russo Eugênio Larionoff, funcionário da então Companhia de Terras do Norte do Paraná, e recebeu de viajantes a comerciantes e autoridades políticas. "A hospedagem era muito usada por pessoas que vinham de fora para comprar terras em Rolândia. Também servia de ambulatório, consultório médico e maternidade, porque a cidade não tinha hospital ainda", relata o coordenador do Centro de Intercâmbio Cultural Brasil-Alemanha, Pedro Bernardy, de 75 anos. "Lamentamos muito o que aconteceu com o hotel hoje", diz. O mesmo sentimento é compartilhado pela recepcionista Marisa Machado, de 47. "Já era para o hotel estar de pé. Parece que a reconstrução ficou no papel", pontua.
Na avaliação do professor Marco Antônio Neves Soares, do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL), a situação envolvendo o Hotel Rolândia é preocupante não só por se tratar de um prédio histórico para o município, mas para toda a Região Norte do Estado. Ele acredita que características do empreendimento já foram perdidas com a demolição feita sem os cuidados necessários. "A guarda do material também foi feita de maneira amadora e isso compromete a ideia do hotel enquanto patrimônio histórico. O poder público parece que quer fazer um simulacro do hotel, que é algo parecido, mas sem ligação temporal com o primeiro prédio. É como um faz de contas", analisa.
Soares salienta a importância do hotel para o âmbito regional, uma vez que o local recebia interessados em fixar residência nas cidades do Norte do Paraná. "Se estivesse preservado, o Hotel Rolândia seria hoje um local de memória para o Estado. Ele não indica só a expansão de Rolândia, mas de toda a ocupação da região", frisa.
ENTRAVES
De acordo com a secretária de Cultura de Rolândia, Simone Carvalho, a maior demora no processo de reconstrução do Hotel Rolândia se deve a problemas envolvendo a primeira empreiteira que venceu a licitação para as obras. Houve desistência e o município levou tempo até encontrar outra interessada. "A primeira empresa demoliu e depois deixou a obra. Foi necessário fazer uma nova licitação e tivemos vários editais desertos", explica. O último atraso, no entanto, se deu por conta de outro tipo de problema. "Foi necessário mandar fazer as telhas para cobrir a construção, porque são de um modelo que não existe mais. Por isso, foi preciso uma nova licitação", comenta.
Simone diz que o objetivo da prefeitura é que o Hotel Rolândia seja erguido com as mesmas características da primeira edificação. "Mas, por mais que a madeira seja nobre, muitas coisas acabam estragando no desmonte." A rapidez na entrega da obra depende, no entanto, da disponibilidade de recursos financeiros. "A reconstrução está no orçamento, mas a verba é direcionada conforme o município vai arrecadando", assinala a secretária. As próximas etapas da obra são a colocação da cobertura e do assoalho. A estimativa da administração municipal é que a reconstrução seja concluída até o final do primeiro semestre de 2016.
Antoniele Luciano
Reportagem Local
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