FOLHA DE LONDRINA
Falta de merenda mobiliza alunos
Colégio de Londrina recebe mantimentos, mas diretora diz que quantidade é insuficiente; estudantes completam seis dias de ocupação em Maringá
Merendeiras optaram por picar as almôndegas para que o molho renda mais e nenhum aluno fique sem a merenda
Depois de vários dias de improviso com as despensas vazias, as cozinheiras do Colégio Estadual Thiago Terra, no Jardim União da Vitória, na zona sul de Londrina, puderam enfim preparar a merenda completa servida ontem aos 680 alunos matriculados nos três turnos. A segunda remessa de mantimentos do ano foi entregue pelo governo na última sexta-feira. O problema é que, segundo a diretora Maria Ângela Leite, a quantidade é insuficiente para alimentar os alunos até a próxima remessa.
De acordo com Maria Ângela, o consumo é de cerca de 35 pacotes de macarrão por dia. Com os 200 pacotes recebidos, ela calcula que o estoque do produto vai durar, no máximo, uma semana. "A escola fica em um bairro carente e muitos dos alunos têm a merenda como a principal refeição do dia", expôs. A diretora prevê que antes de 15 dias a falta de merenda pode se repetir. Para evitar transtornos, o jeito é usar a criatividade para fazer a comida render. "As almôndegas congeladas que recebemos, nós temos que picá-las em pedaços bem pequenos e disfarçar com um molho. Literalmente, não dá nem para o cheiro", contou.
Tony Ferezin, de 19 anos, aluno do 3º ano do ensino médio no Thiago Terra, comentou que a falta de merenda é um dos principais problemas enfrentados pelos alunos este ano. "Nós nos reunimos e fomos até à direção da escola cobrar providências. Aí pudemos ver a situação lamentável da despensa vazia", contou. Ferezin disse estar preocupado com novos atrasos no repasse da merenda. "Faz cinco anos que estudo aqui e a merenda nunca foi um problema assim tão grave. A gente espera que isso seja solucionado e não se repita mais", comentou.
A Secretaria de Estado da Educação (Seed) garantiu que a terceira remessa de merenda será entregue a partir da semana que vem. O órgão informou que entregou 111 toneladas de mantimentos para Londrina desde fevereiro e mencionou que R$ 1,4 mil foram destinados ao Colégio Thiago Terra para a compra dos itens em falta, quantia considerada irrisória pela diretora.
A chefe do Núcleo Regional de Educação de Londrina, Lúcia Cortez, informou que, nestes casos, o Núcleo faz remanejamento da merenda entre os colégios da cidade, mas, segundo ela, nenhuma escola comunicou o problema.
Além dos produtos já recebidos, de gêneros não perecíveis como macarrão, arroz, feijão, farinha, leite em pó e bolachas, o colégio deve receber a entrega das carnes, que chegam a cada 15 dias. Neste ano, o principal problema é com as frutas, verduras e legumes, produzidos pela agricultura familiar. De acordo com a Seed, problemas com licitações e pregões eletrônicos atrasaram a entrega dos produtos para cerca de 2 mil escolas em todo o Estado.
A coordenadora de nutrição e alimentação escolar da Seed, Márcia Stolarski, admitiu que o governo enfrenta problemas em função do "momento econômico", além de questões burocráticas, como licitações frustradas. Ela definiu o processo de compra por meio da agricultura familiar como uma "aquisição de alta complexidade". "São produtos muito perecíveis que exigem uma grande logística. O que ocorre também é que enfrentamos sérios problemas com a maioria das 150 cooperativas de agricultores, que pela característica familiar, de pequeno porte, têm dificuldade de apresentar documentação ou retornar um contato por e-mail no prazo".
O processo licitatório com as cooperativas se arrasta desde setembro do ano passado. Márcia antecipou que a questão deve ser resolvida em breve. Na quarta-feira, o governo deve oficializar contrato de R$ 35 milhões com 150 cooperativas e associações do Estado para a compra de frutas, legumes, verduras, ovos e produtos lácteos.
MARINGÁ
O Colégio Estadual Gerardo Braga, de Maringá, completou ontem o sexto dia de ocupação. Insatisfeitos com a falta e a qualidade da merenda, cerca de 200 alunos, inclusive de outras escolas, se instalaram no prédio, suspendendo por tempo indeterminado as aulas para os 730 alunos. Eles também cobram melhorias estruturais nos colégios da cidade.
Durante os seis dias de ocupação, os alunos promoveram programação alternativa com a realização de oficinas e outras atividades esportivas e culturais. Segundo a página "Gerardo Braga Ocupado", nas redes sociais, criada pelos manifestantes, a programação reafirma o modelo de ensino que os alunos desejam: "um modelo de ensino inovador, onde o estudante não é apenas uma engrenagem, mas protagonista do conhecimento".
Em entrevista coletiva recente, o governador Beto Richa (PSDB) criticou a ocupação e lamentou o fato de, segundo ele, os alunos estarem sendo usados por um movimento político-partidário. Pelas redes sociais, os estudantes rechaçaram a declaração do governador. "Nós não estamos sendo usados por movimento político, nós somos um movimento político. Um movimento que reivindica merenda de qualidade, estrutura adequada e uma escola que envolva toda a comunidade."
A Seed não reconhece a falta de merenda no colégio. Segundo a secretaria, 912 quilos de alimentos foram entregues no dia 13 de maio.
Celso Felizardo
Reportagem Local
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