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sábado, 29 de outubro de 2016

idosa tira primeira habilitação aos 91 anos

Vítor Ogawa - Grupo Folha - 

Uma das mais novas motoristas do Paraná possui 11 netos, 12 bisnetos e cinco tataranetos, e mora de Ibiporã (Região Metropolitana de Londrina). A professora aposentada Vanda Davanso Gnann nasceu no dia 3 de setembro de 1925, e a sua carteira nacional de habilitação foi emitida no dia 27 de setembro deste ano, logo depois dela completar 91 anos. 

Vanda conta que foi impedida de tirar a habilitação quando era mais nova, por causa do marido. "Acho que era ciúme", cogita. Ela relata que seu marido morreu em 1978 e, no leito de morte, pediu perdão por tudo que a proibiu de fazer. "Ele disse que Deus me daria em dobro tudo o que não me deixou fazer e isso aconteceu", afirma. 

Questionada sobre o motivo dela ter demorado 38 anos depois da morte do marido para finalmente conseguir tirar a CNH, ela disse que precisava de recursos para as aulas de direção e para comprar um caro. "Eu, como professora, recebia pouco", expõe a aposentada. Ela ressalta que desde os 35 anos sonhava em dirigir. Na época seu sonho era ter um Simca Chambord. "Ele tinha um rabo-de-peixe muito bonito. Era o carro que era usado pelas autoridades", relembra. 

O marido era motorista da prefeitura e, por isso, dirigia os veículos do município. O carro da família, um Fusca, acabava parado na garagem. Enquanto isso, Vanda se dedicava às aulas e aos seus quatro filhos. Realizava afazeres, como as compras, a pé. 

Quando decidiu tirar a CNH, a aposentada buscava também a sua independência. "Eu tenho que me virar; meus filhos trabalham. Mas o que eu mais desejo é ir visitar os meus parentes de São Paulo, do interior paulista, de Minas Gerais e Mato Grosso", revela a aposentada, que é bastante falante e animada. 

Recentemente, ela adquiriu um carro modelo sedan, com muitas funções que não existem no carro em que fez as aulas de direção. Mesmo com a permissão para dirigir, Vanda prefere não conduzir o próprio carro até que a habilitação deixe de ser provisória – um ano. "Eu não posso perder essa carteira de jeito nenhum", ressalta. "Já visitei meus parentes em São Paulo com esse carro, mas não fui dirigindo", diz desapontada. 

DISCRIMINAÇÃO 
Durante oito anos Vanda frequentou aulas no centro de formação de condutores e por sete anos realizou exames até, finalmente, conseguir passar em todos eles. "Havia muita discriminação por parte dos examinadores por causa da minha idade. Eles me reprovavam direto. Um deles chegou a me dizer que eu nunca teria a carteira de habilitação", relata. 

Inconformada, Vanda solicitou ao Detran, em Curitiba, que enviasse uma junta médica para avaliá-la. Segundo ela, o Detran respondeu, dizendo que não teria como enviar uma equipe só para avaliá-la, e pediu que realizasse os testes em Curitiba. Na capital, ela foi aprovada nos testes psicotécnico e médico e no teste de visão. Mas ainda faltava o teste prático, realizado em Ibiporã. 

"Quando estava fazendo o teste, juntou muita gente para ver eu dirigindo. Eu pedi a Deus que ajudasse e deu tudo certo. Consegui fazer a baliza em dois minutos e meio e dirigi por 15 minutos sem deixar o carro morrer", relata. "Quando o avaliador disse que eu estava apta, eu não sabia se ajoelhava, se orava ou se agradecia." 

Quinze dias depois da aprovação ela recebeu a carteira provisória. "Teve até festa, um churrasquinho para comemorar", conta. Questionada sobre o que significa esse documento para ela, ela afirma: "É uma relíquia. É um presente. É um prêmio", resume. 

Antes de sair sozinha na direção do seu carro, ela quer praticar mais com uma instrutora. "O seguro morreu de velho e mesmo assim ele morreu. Toda cautela é pouca. Não quero cometer deslizes neste ano em que a carteira for provisória." 

Nascida em Salto Grande (SP), ela relata que o primeiro carro que viu na vida foi um Ford modelo A/1928. "Eu tinha nove ou dez anos quando vi aquele carro. Meu pai e meu tio que compraram. Eu achei aquilo uma modernidade", relembra. 

Hoje com um Fiat Grand Siena, ela projeta muitos bons momentos com o seu carro. "Minha avó morreu com mais de cem anos e minha bisavó morreu com 120 anos. Então os médicos dizem que eu tenho muita lenha para queimar. Eu só tenho que agradecer a Deus", conta. 

Leia mais na edição desta sexta-feira da Folha de Londrina

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