FOLHAWEB
O projeto ''Respeito não tem cor'' chamou a atenção dos alunos para a importância de tirar do anonimato a verdadeira história da África
Em uma passarela improvisada, meninos e meninas estavam orgulhosos ao desfilarem com trajes típicos
Máscaras africanas feitas de papel machê deram um toque artístico ao projeto
Inserção do negro no mercado de trabalho foi trabalhada com um desfile de profissionais como personal trainers, engenheiros, advogados e médicos
Ao som do gênero musical Kuduro, de origem angolana, alunos da terceira série sentiram o quanto faz bem dançar
Era uma vez uma linda garotinha negra que sonhava em ser branca. Na verdade, na sua imaginação ela já era branca, pois não se aceitava negra. O processo de ''embranquecimento'' a perseguia de diversas formas: na hora do banho se esfregava com força para ver se a pele clareava e só saía de casa com chapinha no cabelo ou com trancinhas bem apertadas. O cabelo crespo, ao natural, nem pensar.
E assim foi até chegar à faculdade de pedagogia, onde finalmente se aceitou como negra, percebendo a beleza que já existia dentro dela mesma. ''Essa história parece ficção, mas é a mais pura verdade'', admite a professora Janaína Moraes, que hoje também se dedica à contação de histórias para crianças, levando aos pequenos um universo encantado onde assuntos delicados podem ser trabalhados de forma sutil e que acabam tocando o coração.
''Como educadora vejo o quanto a minha história se repete. É muito triste ver as crianças não se aceitando, deixando de perceber as riquezas que carregam, e estou muito feliz em poder, pela primeira vez, trabalhar a temática do preconceito em várias escolas da região. Está sendo uma experiência maravilhosa como pessoa e como educadora. Acredito verdadeiramente que estamos caminhando para um mundo melhor. Sou uma otimista convicta'', ressalta, divertindo-se com sua peruca black power colorida, que fez questão de usar em sua apresentação na Escola Municipal Sebastião Feltrin, de Rolândia, na última sexta-feira.
Em foco uma história bem conhecida da criançada: ''A Menina Bonita do Laço de Fita''. Depois foi a vez de dar vida à história de tradição oral ''Os Três Carneiros'', de origem africana, que com bom humor aborda a importância de sempre ter um irmão mais velho por perto e à disposição para nos defender.
Coordenado pela professora Loreane Stefanon, o projeto ''Respeito não tem cor'' começou a ser trabalhado no começo do segundo semestre, tendo a sua culminância nas vésperas do dia 20 de novembro (último domingo), quando se comemorou o Dia da Consciência Negra. Após a contação, Loreane chamou a atenção dos alunos para a importância de tirar do anonimato a verdadeira história da África, que infelizmente poucos conhecem.
Em uma passarela improvisada com tapetes vermelhos, meninos e meninas estavam orgulhosos ao desfilarem com trajes típicos, acompanhados de instrumentos de percussão de origem africana: agogô, atabaque, pandeiro, tamborim e xequerê, que fazem parte do acervo musical da escola.
Entre as modelos, a pequena Nicole Beatriz Pereira de Araujo, 9 anos, esbanjava charme com seu vestidinho preto e seus cachos à solta. As professoras também ''entraram na dança'' e aproveitaram para usar adereços afros, como turbantes e lenços coloridos. Além disso, colares feitos de argila e máscaras africanas de papel machê, feitos sob a orientação da professora de arte Josilene Alves, deram um toque artístico ao projeto.
Um outro aspecto bem interessante do projeto foi a abordagem da dificuldade da inserção do negro no mercado de trabalho. Mas diferentemente do que costuma acontecer - já que a primeira imagem que vem à cabeça é a do negro atuando como jogador de futebol -, o que se viu foram futuros personal trainers, engenheiros, advogados e médicos desfilando sob os aplausos calorosos dos colegas espectadores.
Ao som do gênero musical Kuduro (de origem angolana, que refere-se a dançar com o quadril duro, o corpo ereto) - febre entre a criançada na voz do cantor Latino e do cantor Daddy Kall, que é brasileiro -, a professora de educação física Silvia Maria Pessoa Paganini reuniu alunos da terceira série para mostrar o quanto faz bem dançar, ainda mais com o cuidado que ela teve de apresentar a dança dentro do que ela chama ''ritmo de academia''. No final, uma breve poesia sobre racismo deixou uma mensagem que vale a pena refletir: ''... vamos, com amor gentil, acabar com o preconceito''.