Rolândia – Na Avenida Presidente Getúlio Vargas, no coração de Rolândia (Região Metropolitana de Londrina), a lembrança mais fidedigna do Hotel Rolândia, a primeira hospedagem construída no município, é um quadro em uma das salas do Hotel Pinheiro. No lugar onde havia uma janela que permitia ver a antiga construção de peroba rosa, uma fotografia de 1935 foi pendurada na parede. Hoje, se a janela ainda estivesse ali, a vista daria para um edifício em construção. O famoso Hotel Rolândia, por sua vez, se tornou centro de um imbróglio que coloca em risco um dos maiores símbolos do patrimônio histórico da cidade, uma vez que a reconstrução do imóvel segue a passos lentos. Apesar de a demolição ter ocorrido em março de 2011, a última intervenção, que foi a licitação para compra de telhas, foi há três meses.
Segundo dados da Secretaria Municipal de Cultura, o hotel teve até o momento somente 63% da obra concluída num terreno da prefeitura na mesma avenida onde foi fundado, a 300 metros do ponto original. Depois de pronto, o espaço deve se tornar um museu. A comunidade, ao testemunhar a demora das intervenções, receia que o empreendimento perca as características originais. "A madeira que era do hotel está no tempo, em lugar aberto, com chuva, pode estragar. Deu pena ver o hotel ser desmanchado", comenta a artesã Érica Schroeder, de 65 anos.
A criação da hospedaria data de junho de 1934, mesmo período da fundação de Rolândia. Era a única habitação de madeira da cidade, já que as demais eram ranchos feitos de palmito. O hotel foi construído pelo russo Eugênio Larionoff, funcionário da então Companhia de Terras do Norte do Paraná, e recebeu de viajantes a comerciantes e autoridades políticas. "A hospedagem era muito usada por pessoas que vinham de fora para comprar terras em Rolândia. Também servia de ambulatório, consultório médico e maternidade, porque a cidade não tinha hospital ainda", relata o coordenador do Centro de Intercâmbio Cultural Brasil-Alemanha, Pedro Bernardy, de 75 anos. "Lamentamos muito o que aconteceu com o hotel hoje", diz. O mesmo sentimento é compartilhado pela recepcionista Marisa Machado, de 47. "Já era para o hotel estar de pé. Parece que a reconstrução ficou no papel", pontua.
Na avaliação do professor Marco Antônio Neves Soares, do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL), a situação envolvendo o Hotel Rolândia é preocupante não só por se tratar de um prédio histórico para o município, mas para toda a Região Norte do Estado. Ele acredita que características do empreendimento já foram perdidas com a demolição feita sem os cuidados necessários. "A guarda do material também foi feita de maneira amadora e isso compromete a ideia do hotel enquanto patrimônio histórico. O poder público parece que quer fazer um simulacro do hotel, que é algo parecido, mas sem ligação temporal com o primeiro prédio. É como um faz de contas", analisa.
Soares salienta a importância do hotel para o âmbito regional, uma vez que o local recebia interessados em fixar residência nas cidades do Norte do Paraná. "Se estivesse preservado, o Hotel Rolândia seria hoje um local de memória para o Estado. Ele não indica só a expansão de Rolândia, mas de toda a ocupação da região", frisa.
ENTRAVES
De acordo com a secretária de Cultura de Rolândia, Simone Carvalho, a maior demora no processo de reconstrução do Hotel Rolândia se deve a problemas envolvendo a primeira empreiteira que venceu a licitação para as obras. Houve desistência e o município levou tempo até encontrar outra interessada. "A primeira empresa demoliu e depois deixou a obra. Foi necessário fazer uma nova licitação e tivemos vários editais desertos", explica. O último atraso, no entanto, se deu por conta de outro tipo de problema. "Foi necessário mandar fazer as telhas para cobrir a construção, porque são de um modelo que não existe mais. Por isso, foi preciso uma nova licitação", comenta.
Simone diz que o objetivo da prefeitura é que o Hotel Rolândia seja erguido com as mesmas características da primeira edificação. "Mas, por mais que a madeira seja nobre, muitas coisas acabam estragando no desmonte." A rapidez na entrega da obra depende, no entanto, da disponibilidade de recursos financeiros. "A reconstrução está no orçamento, mas a verba é direcionada conforme o município vai arrecadando", assinala a secretária. As próximas etapas da obra são a colocação da cobertura e do assoalho. A estimativa da administração municipal é que a reconstrução seja concluída até o final do primeiro semestre de 2016.