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Lista da Odebrecht tem ao menos dez paranaenses
Documentos obtidos pela PF citam repasses a Beto, Gleisi, Bernardo, Fruet, Ducci, Ratinho Jr., Barros, Samek, Hauly e Márcia Lopes; todos negam irregularidade nas doações
Curitiba – Pelo menos dez políticos paranaenses aparecem como possíveis beneficiários de uma espécie de contabilidade paralela da Odebrecht. As tabelas foram publicadas ontem pelo blog do jornalista Fernando Rodrigues, do portal UOL, depois de os diretores da empresa terem decidido fazer delação premiada (acordo negado ontem pelo Ministério Público Federal). Ao todo, o acervo possui 200 nomes, de 18 partidos diferentes, incluindo Aécio Neves (PSDB-MG), Romero Jucá (PMDB-RR), Humberto Costa (PT-PE), Eduardo Cunha (PMDB-RJ), José Sarney (PMDB-AP), Renan Calheiros (PMDB-AL) e Eduardo Campos (PSB-PE), o último morto em 2014.
Entre os citados no Estado estão três pré-candidatos à Prefeitura de Curitiba em 2016: Luciano Ducci (PSB), Ratinho Jr. (PSD) e o atual prefeito Gustavo Fruet (PDT); o governador Beto Richa (PSDB), a senadora Gleisi Hoffmann (PT), os ex-ministros Paulo Bernardo (PT) e Márcia Lopes (PT); os deputados federais Ricardo Barros (PP) e Luiz Carlos Hauly (PSDB) e o diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Samek (PT). Todos negam qualquer irregularidade nos repasses. O PT de Curitiba também é mencionado, como receptor de R$ 1 milhão, mas não se pronunciou a respeito.
As planilhas, que conforme o jornalista foram liberadas anteontem pela força-tarefa da Lava Jato, estariam com Benedicto Barbosa Silva Júnior, presidente da Odebrecht Infraestrutura e conhecido no mundo empresarial como "BJ’’. Foram apreendidas na 23ª fase da operação, batizada de "Acarajé", realizada em 22 de fevereiro deste ano. Os investigadores ainda apuram se os dados se referem a doações eleitorais regularizadas ou a pagamentos de propina. As tabelas detalham os partidos, valores recebidos e até apelidos atribuídos aos citados. Hauly, por exemplo, seria o "Champanhe", enquanto Calheiros é chamado de "Atleta". Há ainda CNPJs e números de contas usadas pelas legendas.
O juiz Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava Jato, decretou o sigilo dos autos relativos à lista ontem. No despacho, ele também intimou o Ministério Público Federal (MPF) para que se manifeste "com urgência" sobre o envio das informações ao Supremo Tribunal Federal (STF), uma vez que são envolvidas pessoas com prerrogativa de foro. Quando a decisão foi tomada e tornada pública, contudo, diversos veículos de imprensa já haviam divulgado o conteúdo dos papeis.
VALORES
A referência ao governador Beto Richa consta de um repasse de 24 de setembro de 2010, para o diretório estadual do PSDB do Paraná. O valor é de R$ 200 mil, entretanto, no campo "pagamento", o registro é de R$ 160 mil. Em nota, a legenda informou que o diretório e a campanha majoritária daquele ano "não receberam doação da Odebrecht". Segundo os tucanos, o repasse dos R$ 160 mil foi efetuado pela empresa Leyroz de Caxias Indústria Comercial & Logística Ltda., "conforme consta na prestação de contas aprovada pela Justiça Eleitoral".
Já Gleisi é citada em outra tabela, onde estão recursos de campanhas municipais. A senadora concorreu à Prefeitura de Curitiba em 2008 e ao governo do Estado em 2014. Na mesma página, aparece o nome do ex-ministro das Comunicações Paulo Bernardo, que é seu marido. O valor total mencionado é R$ 1,5 milhão. "Esses recursos devem ser referentes a doações para as campanhas eleitorais municipais de 2012, que foram repassados pelo Diretório Nacional do PT ao Diretório Estadual e aos Diretórios Municipais. O Grupo Odebrecht fez doações via Diretório Nacional", comentou a petista, também em nota.
Ducci, Fruet e Ratinho, que disputaram o pleito municipal na capital paranaense em 2012, vencido pelo pedetista, teriam obtido, respectivamente, R$ 500 mil, R$ 300 mil e R$ 250 mil da empreiteira. O deputado federal socialista disse que não recebeu recursos da Odebrecht. "Todas as doações de minha campanha estão com origem declarada na minha prestação de contas, seja pessoa física ou jurídica". Sobre as verbas doadas ao diretório do PSB naquele ano, ele justificou que não tinha controle sobre sua origem. "Vale destacar que a Prefeitura de Curitiba não mantinha contratos com a Odebrechet."
A assessoria de imprensa de Fruet garantiu, igualmente, que ele não recebeu nenhuma doação da empresa e que a atual gestão não possui negócios com a Odebrechet. Já o secretário de Estado do Desenvolvimento Urbano falou que todas as doações recebidas em suas campanhas, inclusive as oriundas do Diretório Nacional do PSC (seu ex-partido), "foram devidamente declaradas à Justiça Eleitoral, cujas prestações de contas foram aprovadas pelo TRE-PR". Ratinho Jr. afirmou ainda que "apoia incondicionalmente as investigações" da Lava Jato.
O nome de Hauly está na planilha 9, página 18, como recebedor de R$ 360 mil, com data do depósito bancário em 24 de setembro de 2010. O tucano falou à FOLHA, por telefone, que as doações recebidas foram legais e lembrou que as suas prestações de conta estão publicadas no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), disponíveis a qualquer um. Ele afirmou ainda que não lembra se a Odebrecht foi uma das doadoras de sua campanha em 2010. "Nunca tive doação que não fosse legal", frisou.
Quanto ao parlamentar do PP, há uma referência, na planilha da página 21, a um repasse de R$ 100 mil para a campanha eleitoral de 2012 em Maringá (Norte), com a anotação "indicação Ricardo Barros". O deputado federal contou à reportagem que o prefeito Roberto Pupin não recebeu doação direta de empresas do grupo. "Todas as doações foram legais e a prestação de contas foi aprovada pela Justiça." Barros disse que está verificando nas prestações de contas se a suposta doação foi realizada aos diretórios estadual e nacional da sigla. "Ainda não encontrei a documentação. Então, não posso afirmar com absoluta precisão."
Samek repudiou, por meio de nota, qualquer ilação que possa ser feita à sua honra pessoal e de homem público, dizendo-se "perplexo e indignado". O diretor-geral brasileiro considerou "estranho" ter seu nome na lista, já que está à frente da Itaipu desde 2003 e não foi candidato a prefeito de Foz do Iguaçu (Oeste) nas últimas eleições. Na tabela divulgada, consta que ele teria recebido R$ 100 mil. O petista anunciou que fará interpelação judicial do executivo da Odebrecht, responsável pelas planilhas, e que tomará outras medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis. Afirmou, ainda, que abre mão dos seus sigilos fiscal e bancário para provar "a inveracidade da menção" ao seu nome.
Ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Márcia Lopes obteve, de acordo com uma das planilhas, R$ 200 mil. Ela foi candidata derrotada à Prefeitura de Londrina em 2012 (ficou em terceiro lugar) e é irmã do ex-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República Gilberto Carvalho (PT). A FOLHA tentou contato com a petista ontem, porém, foi informada de que ela estaria na Argentina, participando de um seminário. (Com agências)
Mariana Franco Ramos e Adriana De Cunto
Reportagem Local